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sábado, 4 de agosto de 2007

Porque viver é uma urgência

Este texto foi enviado por um colega meu, Nilton, também professor, aos colegas professores e aos colegas alunos.
Achei-o lindo, por isso estou compartilhando com vocês. Inclusive a poesia de Drummont.

“Gosto muito dessa poesia de Drummont e a ofereço a vocês, não por coleguismo ou por amizade, pouco nos conhecemos; não por piedade ou por clemência, pouca força eu tenho e vocês, muita, que talvez eu precise mais; não por ódio ou amor, que isso não pode e nem deve pautar qualquer relação pedagógica; não por qualquer força moral e de culpa, pois que aprendi que a culpa é atributo dos fracos; sim por simpatia, que é um sentimento digno entre professores e alunos - mesmo quando há conflito (que sempre há), mesmo quando há desgosto e decepção (que sempre há). Simpatia implica ser capaz de partilhar com o outro sem querer, necessariamente, sentar junto a sua mesa ou brincar juntos no parque; simpatia implica reconhecer atributos na experiência de vocês que lembra (Memória) a minha experiência: as lutas, as dificuldades e, sobretudo, uma força imensa para superar, chorar e sorrir, alegrar-se com os instantes, todos os instantes, por que a vida é feita de instantes e por que viver é uma urgência.”

OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO

Carlos Drummont de Andrade
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.

Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.