Começo sempre com algumas anotações que eu fiz durante a conferência, para,somente depois, postar o resumo enviado pelo Fronteiras do Pensamento a cada participante.
Gabeira:
- Em uma entrevista, na Dinamarca, Dilma disse o seguinte: "O meio ambiente é um obstáculo para o desenvolvimento". Diz ele que foi um ato-falho.
Em uma espécie de brincadeira,disse que no Brasil temos como ministro da energia, um Lobão, enquanto o Obama nomeia, para ministro, um prêmio Nobel de Física. (recebu muitos aplausos nesse momento).
Falou sobre mobilidade urbana, aquecimento global, transgênicos, direitos humanos, Geisel, Collor, FHC, Lula, Dilma, o "auge da revolução da Informática".
- Em Curitiba tem uma melhor comunicação com os moradores, que podem ser colaboradores e são georeferenciáveis ao aceitarem ser colaboradores.
(Como Gabeira falou mais do que os 20min previstos, Marina se mostrava impaciente com tal demora).
Ao concluir a sua fala, Gabeira diz, referindo-se ao cronômetro que marcava o tempo da fala: "Eu tenho a impressão que aquele relógio parou!".
Marina:
Falou sobre o mundo em crise, questões ambientais e políticas, "Armagedon", temperatura, crise de valores, cosmovisão, política, ética, estética, energia solar, "atitude cínica e atitude clínica", mencionando Bauman.
- ...relação conosco, com o outro e formas de exist~encia (Bauman).
- Deve-se separar a ética da política, separar o que se diz do que se faz.... a saída a ser enfrentada por todos para enfrentar a crise civilizatória.
- Somos uma cultura do excesso.
-O homem saiu da idade da pedra não foi por falta de pedras. Agora temos de sair da era do petróleo, antes que acabe.
O resumo deste debate foi este (leia mais):
A sustentabilidade como modo de ser
Por Sonia Montaño
O Brasil e a questão
ambiental foi o tema que reuniu, em um debate especial no palco do Fronteiras
do Pensamento, dois dos principais ambientalistas brasileiros: a
professora e historiadora Marina Silva e o escritor e jornalista Fernando
Gabeira.
A noite, que iniciou ao
som da flauta transversal de Leonardo Winter na saudação musical, trouxe dois
pontos de vista complementares sobre a atual crise civilizacional que inclui economia,
educação, questões ambientais e sociais.
O Brasil e a questão ambiental
Fernando Gabeira foi o
primeiro a fazer uso da palavra, trazendo um pouco da história da posição dos
diversos governos brasileiros diante da questão ambiental desde os governos militares.
Ele lembrou a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento,
conhecida como ECO-92, ocorrida logo depois do período Sarney, durante o governo
Collor. “Ali, o Brasil percebeu que não era o único que estava com problemas ambientais,
e o tema aflorou na imprensa diariamente, o que fez aumentar a consciência ambiental
da população”, explicou. Disse, ainda, que em 1992 os temas centrais da questão
ambiental eram a camada de ozônio e as florestas. Da mesma forma, os africanos
introduziram a questão da desertificação, e a própria Eco-92 viria revelar o
aquecimento global como grande tema.
Gabeira descreveu
diversos avanços alcançados ao longo da história do País, mas para ele, entretanto,
o Brasil,
que ocupa um lugar de referência na questão como interlocutor de outros países, apresenta muitos problemas em seu cotidiano. “A posição brasileira não tem uma correspondência no Brasil. Nem sempre o que mostramos para fora é o que realmente somos.” Para Gabeira, o governo do PT se diferenciou no início por algumas lideranças que introduziram a preocupação com questões do ambiente. “Contudo, momentos mais decisivos, como o início do governo Lula, foram marcados por uma lógica da destruição da floresta e a liberação de soja transgênica sem prévia pesquisa.” Foi a presença de Marina Silva no Ministério de Meio Ambiente que fez avançar a questão ambiental brasileira, embora ela se chocasse com uma visão desenvolvimentista que a levou a sair não só do Ministério, mas também do partido. O governo atual não tem uma visão ambiental. “Obama nomeou como ministro de energia um prêmio Nobel da Física, e no Brasil é o Lobão, ou seja, é mais um espaço de troca política”, argumentou.
que ocupa um lugar de referência na questão como interlocutor de outros países, apresenta muitos problemas em seu cotidiano. “A posição brasileira não tem uma correspondência no Brasil. Nem sempre o que mostramos para fora é o que realmente somos.” Para Gabeira, o governo do PT se diferenciou no início por algumas lideranças que introduziram a preocupação com questões do ambiente. “Contudo, momentos mais decisivos, como o início do governo Lula, foram marcados por uma lógica da destruição da floresta e a liberação de soja transgênica sem prévia pesquisa.” Foi a presença de Marina Silva no Ministério de Meio Ambiente que fez avançar a questão ambiental brasileira, embora ela se chocasse com uma visão desenvolvimentista que a levou a sair não só do Ministério, mas também do partido. O governo atual não tem uma visão ambiental. “Obama nomeou como ministro de energia um prêmio Nobel da Física, e no Brasil é o Lobão, ou seja, é mais um espaço de troca política”, argumentou.
Gabeira destacou as
respostas criativas que diversas cidades vão tendo diante de problemas como a
mobilidade urbana ou empreendimentos sustentáveis de economia criativa. “O
mundo mudou, estamos no auge de uma revolução da informática. É necessário que
os governantes usem a inteligência coletiva. A população tem algo a dizer. Uma
vez, escrevi que a grande cidade não tem solução, que devíamos migrar para o
campo, mas hoje compreendo que as soluções para as cidades virão das próprias
cidades”, concluiu.
Sustentabilidade e crise civilizacional
Marina Silva iniciou sua
fala lembrando o início de sua militância, quando, aos 17 anos, junto a Chico
Mendes, se preocupava com a floresta e outras questões, preocupação que
Fernando Gabeira, na época, ajudou a chamar de “ecologia”. Em seguida,
contextualizou a crise ambiental brasileira numa crise civilizacional. “A crise
ambiental não é isolada. Nosso mundo está em profunda crise: crise econômica,
em que há um crescimento baixo em todos os países do mundo; e crise social,
pois 2 bilhões de seres humanos vivem com menos de 2 dólares por dia – isso
traz problemas na saúde, na educação, de habitação, de vida digna, de entretenimento”,
explicou. Ela disse que a crise ambiental tem vários aspectos e revelou como o
maior de todos eles a questão das mudanças climáticas. “Tivemos a triste
notícia, recentemente, de que já chegamos às 400 partículas por milhão
de dióxido de carbono na atmosfera, o que pode ocasionar a elevação de
temperatura, e isso pode comprometer o futuro da vida na Terra.” Ao cenário de
crise acrescentou a crise política, em que a maioria das pessoas não se sente
representada, e lembrou a frase escrita por jovens espanhóis que participavam
de um protesto: “Nossos sonhos são maiores que as urnas de vocês”. Os movimentos
no mundo inteiro denunciam a qualidade e a quantidade dessa representação.
Entre atitudes clínicas e cínicas
A ambientalista falou
ainda da crise de valores, não num sentido moralista, e sim como um deslocamento
da ética de valores para a ética de circunstâncias. Ela citou Bauman, ao falar sobre
pensar as relações com os outros e as outras formas de vida a partir de uma “atitude
cínica” ou de uma “atitude clínica”. A atitude clínica mede as consequências e
decide não em função de tirar proveito. A atitude cínica não se importa com as
consequências: “Vou tentar tirar vantagem a qualquer preço”. “Quando a Rio+20
decidiu adiar a formação de um mecanismo de governança para enfrentar os graves
problemas ambientais que temos, com certeza não foi uma atitude clínica. Quando
os especuladores do sistema financeiro nos levaram a uma crise econômica em
2008, não foi uma atitude clínica”, exemplificou a palestrante. A crise de
valores é o que separa economia de ecologia, ética de política, aquilo que se
diz daquilo que se faz. A isso tudo Marina chamou de crise civilizacional,
crise que não temos conhecimento de como enfrentar. A saída não poderá vir de
um partido ou de um setor só da sociedade, envolve toda a sociedade. “É
possível pensar a ideia de sustentabilidade para além de um questionamento à
nossa maneira errada de fazer as coisas. O questionamento deve
ser profundo, repensar nossa maneira errada de ser.”
Lembrou, também, que por
milhares de anos fomos orientados pelo ideal do ser e só nos últimos 400 anos
nos orientamos ao ideal do ter, do consumir e do fazer. Devemos preservar as
conquistas desejadas, mas reparar as perdas de biodiversidade. É preciso mudar
o modelo de desenvolvimento. Um modelo pensado em todos os seus aspectos
econômico, ambiental, político, ético, estético. Para Marina, não há suporte no
mundo para as coisas que desejamos. “Se os 7 bilhões de habitantes quisessem
ter carro, não há como fazer isso. Devemos mudar o desejar ter pelo
desejar ser: ser mais criativo, ser mais erudito, ser o melhor
jornalista, o melhor jogador de futebol”, disse. Essa desmaterialização do
consumo pode nos ajudar a ter uma economia criativa. Devemos fazer um
deslocamento do ter e do fazer, somos uma cultura do excesso, devemos nos
conectar com a falta. “Ainda temos 16 milhões de pessoas vivendo na extrema
pobreza, e isso é um problema ético, não técnico. Sustentabilidade é uma
maneira de viver. Há 50 anos tínhamos mil vezes mais biodiversidade que agora.”
Uma mudança de paradigma
Como exemplo de que a
sustentabilidade tem uma dimensão estética, Marina disse que poderia se propor
transformar o Pão de Açúcar, aproveitando as obras da Copa, em estádio ou viaduto.
Entretanto, nem os cariocas, nem os brasileiros, nem a humanidade como um todo iam
deixar. “Tem coisas que devem ser preservadas não por um valor econômico, mas
porque é constitutivo de nossa forma de ser, de nosso estar no mundo. Há uma
dimensão da sustentabilidade que é estética, que é ética de valores e não de
circunstâncias”, disse. Precisamos de políticas de longo prazo no lugar de
políticas de curto prazo para alongar o prazo dos políticos na política. Isso
tem a ver com a ética de valores.
A historiadora referiu
ainda a necessidade de pensar as “fronteiras do pensamento”, onde elas estariam?
Estariam no impensável, e o que é que seria o impensável? A morte. Não conseguimos
pensar a nossa morte, menos ainda a morte da vida na Terra, que poderá vir a ocorrer
porque algumas decisões das últimas centenas de anos nos encaminham para isso. “Como
é que em pleno século 21, em plena crise civilizacional, no país de maior insolação
do planeta, não temos nem um parágrafo sobre energia solar no Plano Nacional de
Energia? A Alemanha tem 0,9 de energia de sol e está produzindo 20% de sua
energia solar”, insistiu.
Marina concluiu que
devemos nos preocupar com o meio ambiente em nosso próprio ambiente. “Se os
gaúchos se preocuparem com a Amazônia e não se preocuparem com a geração de
energia limpa aqui, se o pessoal da Amazônia ficar preocupado com a geração de energia
limpa no sul, não seremos sustentáveis. Nós criamos a lógica de defender o meio
ambiente no ambiente dos outros, e chegou a hora de defender o meio ambiente no
nosso próprio ambiente”, disse Marina. Para ela, está surgindo um novo
paradigma que sai da lógica do ter e do fazer, um paradigma que faz com que
cada pessoa se sinta protagonista, responsável por um mundo melhor, e o Brasil
é o país que reúne maiores condições para essa mudança. Um paradigma que leva a
uma atitude clínica e não a uma atitude cínica.
Para iniciar o espaço
reservado à perguntas, os conferencistas perguntaram um ao outro. Marina
perguntou a Gabeira sua opinião sobre um novo paradigma que estaria emergindo
de que o Brasil é o país que reúne as melhores condições para liderar essa
mudança. Ele disse ser um tanto pessimista em relação a isso e não ver essa
capacidade de o País liderar o mundo com um novo paradigma, pois, embora as
condições naturais sejam muito ricas, as humanas estariam aquém dessa
consciência. Gabeira perguntou a Marina sobre a necessidade de focar mais nas
cidades um pouco “esquecidas” pelos ambientalistas. Marina disse que o tema era
fundamental, já que mais de 80% da população moram nas cidades e estas podem
ser sustentáveis, mas discordou de que seja um tema esquecido pelos
ambientalistas. Lembrou que cerca de 84% da população não têm esgoto tratado e
que essas questões devem fazer parte da agenda dos compromissos de um prefeito,
assim como questões de mobilidade etc. “Hoje, tem muita gente buscando o apoio
dos ambientalistas para ajudar a pensar a arquitetura, a agricultura etc. O
meio ambiente não é mais o verde pelo verde e sim pensar a vida tanto no espaço
urbano como em qualquer outro espaço”, disse.
Depois, os conferencistas
responderam perguntas do público sobre o Pré-sal, sobre o ponto de alavancagem
de uma nova economia e se a direção do ambientalismo deve ser da população para
o governo ou vice-versa. O papel das empresas diante da crise do poder público,
a corrupção e o novo modelo de desenvolvimento também foram questões trazidas
pela plateia, encerrando assim, o segundo encontro da temporada 2013 do Fronteiras
do Pensamento.
Fonte: http://migre.me/eVhbd
OBS.: Não encontrei referências sobre um comentário feito, durante o debate, de que, na época da ditadura, havia uma campanha a favor do progresso, cujo slogan seria algo como "Bem-vinda, poluição!". Alguém lembra disso?
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